domingo, 1 de dezembro de 2013

Anna da Motta Paes

Às vezes  nos deparamos com alguns documentos que nos intrigam, e pensamos que nunca vamos conseguir desvendar as pessoas envolvidas. Esse caso especialmente começou quando encontrei esse registro de batismo em Pouso Alegre:



Na imagem lê-se:

Aos 16 de Abril de mil oitocentos e vinte e seis no Oratório das Dores desta Freguesia o Reverendo Bento José de Carvalho com licença baptizou e pôs os Santos Óleos a José de treze dias, filho de Anna da  Motta Paes e pai incógnito. Foram padrinhos Antônio da Silva Mello, casado,  e sua irmã Maria Antônia, casada, o padrinho freguês da Villa de Campanha e [os demais] desta Freguezia de que mandei fazer este assento que assino.

O Vigário  João Dias de Quadros Aranha

Fiquei extremamente curiosa, particularmente por causa da minha própria história de vida: minha mãe sempre foi "acusada" de ser a primeira mãe solteira na história dos Motta Paes, então imagine que interessante encontrar a coitada da Anna em 1827: imaginem o estigma! O que acontece é que observando o registro, não existia nenhum indício que me indicasse quem poderia ser Anna, ou seus pais. Bem, aí a história oral me ajudou um pouquinho: veja bem, não tenho certeza se as duas histórias, que me foram contadas por pessoas diferentes e que provavelmente não se conheciam, coincidem. Pelo ano de nascimento, pode ser que seja a mesma Anna, mas não posso afirmar com certeza, então deixo vocês com a mesma dúvida que tenho. De qualquer forma, é uma história romântica e trágica, bem ao estilo dos Motta Paes.

"Uma das coisas que gostávamos quando eramos criança era quando chegava o mês de julho, era mês de ferias do grupo, então minha mãe nos levava para a casa de meu avo no Pinheirinho, para nos era uma festa tão grande estar junto do meu avo, e uma das coisas que mais me prendia a atenção era suas historias que nos contava a beira do fogão a lenha que tinha na cozinha. E uma dessas historias me marcou muito e sempre quando eu ia na casa dele eu pedia para ele me contar aquela mesma história, minhas irmãs ficavam bravas comigo, mas eu nem ligava, pois eu achava a história triste e ao mesmo tempo bonita (risos). Meu avo contava que o avo dele gostava de contar essa historia e assim foi passada para nós. Era no tempo em que nem tinha Passa Quatro ainda, era tudo pasto e fazendas, existia um tal de tio Zé,era tio avo de meu avo, dizia que teve uma filha que aos quinze anos ficou gravida, nossa isso para aquela época era uma vergonha fora do comum, e esse tio Zé para esconder a vergonha que a filha tinha feito a enviou para a casa de uns parentes dele em Pouso Alegre, para que ninguém soubesse do ocorrido, mas com ela mandou a ordem que após o nascimento da criança eram para sumir com ela. E assim aconteceu, a criança nasceu e segundo dizem era um menino, e dizem que esse Tio Zé mesmo sabendo que era um menino não quis nem saber, a ordem era para dar fim na criança e mandar a moça de volta, bom acabou que a criança ficou com os padrinhos que ninguém nunca mais viu ou ficou sabendo deles. A moça voltou e ao chegar na casa do pai esse Tio Zé, já estava de casamento marcado, o Tio Zé fez ela se casar com um agregado dele para tentar esconder o escândalo que seria se todos soubessem que ela não era mais donzela, e assim aconteceu, ela se casou com ele foram embora para o Estiva e ali tiveram outros filhos.Mas o que foi mais triste nesta historia foi o fim do pai da criança. Meu avo dizia que esse Tio Zé era muito ruim, tanto que quando ele morreu diziam que o diabo vinha buscar a alma dele(risos) coisa dos antigos. Bom o Tio Zé descobriu que quem tinha desonrado a filha dele foi o feitor de sua fazenda, e como castigo o emparedou vivo, meu avo contava que essa filha do Tio Zé até quando pode já velha né ia lá nesse lugar onde o moço estava emparedado, isso era sinal que ela gostava dele né mesmo. Agora a criança ninguém nunca soube o que aconteceu com ela, se morreu, se viveu até a velhice, se casou nenhuma noticia tiveram desse menino. Meu avo contava que o pai dele dizia que ela tinha um olhar muito triste, coitada até hoje antes de dormir eu rezo pela alma dela" (Contada por Guiomar Motta à João Martinho Motta de Castro).

"Minha avó contava essas histórias pra gente eu não acreditava muito não, mas eu adorava, rsrsrs. Dizia que esta Ana apaixonou-se por um empregado de seu pai José da Motta Paes que por sinal era um dos irmãos do Major, só que ela já estava comprometida com o filho de um Fazendeiro de Cristina, e por ironia do destino ela apareceu gravida, o pai desesperado a mandou para Conceição na casa do Major que acabou enviando ela para Pouso Alegre na casa de uma irmã dele que não me recordo o nome e ai ficou até a criança nascer. Quando nasceu Ana queria ficar com a criança, o pai foi até Pouso Alegre arrancou a criança de Ana e deu aos padrinhos para criarem dizem que ninguém nunca mais viu o menino. Sobre o empregado de José esse sumiu, nunca mais foi visto, criou-se um história que ele teria sido emparedado vivo, mas acho mentira, em 1958 estive na tal fazenda e não vi nada de mais". (Contado por Félix da Motta em novembro de 2013).