quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Jornal Diário do Brazil - Edição 173 de 26-07-1884


MOMENTO DA LAVOURA
Minas Gerais
S. JOSÉ DO PARAIZO

O bando faminto dos abutres, chamados abolicionistas, e que tem esvoaçado sobre o quasi cadaver de nossa definhada agricultura, não tem ainda dirigido seu vôo e grasnar sinistro para o bello céo de onsso município.
Ou seja, porque não contem com a reconhecida probidade da nossa magistratura, e autoridade policiaes: nem com a subserviencia de nossos honestos advogados, e nem mesmo, até, com a ignorancia de nossa escravatura, em geral disciplinada, moralisada, e paternalmente tratada, é fato que ainda não tivemos por esta região a visita sorrateira d'esses philantropos de meia cara como infelizmente tem succedido em outros pontos do Brazil.
Mas, como é mais prudente prevenir o mal do que remedial-o, acaba de fundar-se n'esta cidade um Club da Lavoura, Commercio e Industria, que tem por fim prevenir e providenciar na orbita do direito e da lei contra qualquer tentativa subversiva da propriedade individual e da ordem publica.
Sob a iniciativa do Sr. Tenente-coronel Francisco Gomes Vieira e Silva convocou-se uma reunião dos mais importantes fazendeiros, negociantes e outros cidadãos conceituados do município; e no dia 23 do passado, sob a presidência do Sr. Barão de Camanducaia e depois de um discurso do sr. Advogado A. R. De Almeida, em que se expôz o objeto e fim da reunião, foi unanimamente approvado o alvitre e declarado installado o Club da Lavoura.
Passando a eleição da directoria e conselho administrativo, deu o seguinte resultado:
Barão de Camanducaia, presidente; tenente-coronel José Vieira Carneiro, vice-presidente; advogados Antônio Raposo de Almeida e Tobias Patricio Machado, secretários; e Januário Rodrigues Mendes, thesoureiro.
Além de outras deliberações , o Club resolveu dirigir-se ao Imperador n'uma curta mais substancial representação, em que se invoca a sua soberana autoridade para uma questão momentosa, como é a do elemento servil, única seiva de trabalho regular de que póde dipos o nosso lavrador.
Eis a representação:
Senhor – A' sombra de lei e do augusto nome de V. M. Imperial a sociedade brazileira repousava tranquilla, em relação ao elemento servil, crente de que as boas disposições da lei de 28 de setembro se derivarião as consequencias almejadas pelo direito de propriedade e pelos sentimentos de humanidade.
Infelizmente, porém, assim não aconteceu; e, os chamados abolicionistas especulando com a propriedade e ousando pôr em graves riscos a ordem social procuram subverter a sociedade produzindo uma conflagração geral que, a não ter uma forte resistência poderá attrahir desgraças à nossa pátria.
Para V. M. Imperial o protector natural do povo brazileiro e primeiro mantenedor de nossas leis recorre o Club Municipal de S. José do Paraízo, Minas, esperando que da sabedoria e generoso coração de V. M. Imperial virá o remédio para tantos males e a tranquilidade de espirito para os que se acham ameaçados, com suas famílias, não só em suas propriedades, mas também em suas vidas.
S. José do Paraízo, 22 de junho de 1884.
Acha-se pois fundado e funcionando Club da Lavoura, Commercio e Industria do municipio de Paraizo.
Desejamo-lhes todo o exito em sua benefica missão; e assim como elle seguio exemplo de outros muitos e importantes clubs, que se tem fundado em diferentes municipios visinhos imitem o passo, que acaba de dar esta cidade.
Pela nossa parte felicitamos o nosso club,e fazemos votos para que corresponda aos applausos, que já tem sabido inspirar, pelo conceito que merecem no público o pessoal da sua diretoria, do seu conselho e dos seus membros em geral.
( Da Gazeta do Paraizo)

Um comentário:

Anônimo disse...

onde vc conseguiu esse jornal?